quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Atitudes monstruosas...

"Preferia que me batesse, pelo menos, tocava-me"

Trinta e oito anos. Professora universitária, um casamento de 11 anos com um médico, um filho de nove. Um cancro na mama aos 32 e seis anos de violência psicológica.

A promessa de amor e felicidade eterna acabou quando chegou a casa depois de ter tirado o peito esquerdo, "naquela noite disse-me para não me despir", conta Ana Maria (nome fictício). Antes, "fazíamos amor todas as noites". Desde então, "nunca mais me tocou".

"Tinha um corpo invejável", confessa sem falsos pudores. O marido orgulhava-se da mulher que tinha ao lado, "gostava que me vestisse bem, arrojadamente". No dia em que tirou o peito, Ana perdeu a "feminilidade", disse-lhe o marido. Seria de esperar que ele, médico, fosse superior às marcas no corpo. Mas "tudo mudou. Nunca mais me quis", conta Ana.

A violência doméstica tem várias faces. "Preferia que me batesse, pelo menos, tocava-me", desabafa. Mas não. A violência a que Ana é sujeita, dia após dia, é a humilhação. "Sempre que tem amantes, diz-me. Diz que são mulheres completas".

Ana Maria continua a vestir--se bem, mas diz não se sentir mais "mulher". Confessa ter a auto-estima "inexistente. O espelho aterroriza-me". Nunca contou a ninguém o desgaste, a violência, que é o seu casamento. Fora de casa são o casal perfeito, "ninguém acreditaria em mim".

Sabe que não tem de se sujeitar à violência, "posso muito bem sustentar-me sozinha". Por que não o faz? Tem vergonha, "já basta não ser mulher. Abandonada seria ainda pior". E ele sabe disso.

Jornal de notícias
JOANA CARNEIRO

13 comentários:

IsaLenca disse...

Alda, este exemplo terrível é apenas um dos exemplos de testemunhos que foram publicados no JN. São situações que me revoltam imenso, talvez porque acolhi uma prima e o seu bebé quando ela precisou de fugir. Hoje, passados quase 7 anos ela vive felizmente longe do tipinho (pois não consigo dar-lhe outro nome de gente, pelo menos).
Como seria bom que esta senhora que deu este testemunho visitasse os blogues, e que pudesse desabafar e, principalmente obter ajuda: continuar com o sacana é que não!! Haja ou não filhos...a lei já está do lado das vítimas de violência e há uma associação- APAV - que faz um belíssimo trabalho junto das vítimas.
E, como podemos constactar, não interessa a classe social, o grau cultural...a sacanagem e violência existe em todo o lado- mau mesmo é que há quem saiba disfarçá-las muito bem, porque as verdadeiras vítimas precisam mesmo de ajuda e têm muito medo. E dizem que estamos no século XXI!!!

VandaR disse...

Acontece mais do que julgamos. Infelizmente, a maioria das mulheres, já fragilizadas, vivem uma vida de faz-de-conta.
Este relato não me surpreende.
Beijos e boa semana.

Isalenca, a APAV mexe-se tarde demais!

Nela disse...

A situação aqui descrita, para mim, não é um caso de violência doméstica.
É um caso de fraquíssima auto-estima e de interiorização de uma deficiência e de uma diminuição(que não é a falta da mama, óbvio).
Muito sinceramente, e sem querer fazer-me mais forte do que os outros e do que o que sou, este senhor não pode respeitar a mulher porque ela não se respeita.

A senhora precisa de ajuda, mas não é da APAV. Precisa de um bom psicólogo que a ajude a voltar a gostar de si mesma. E aí não há falta de mama, nem homem nenhum que a faça sentir-se diminuida.

IsaLenca disse...

Só u exclarecimento- falei da APAV porque há muitas mulheres que só através do 1º telefonema conseguem depois arranjar coragem para procurar ajuda. E os psicólogos são muito necessários- mas o ideal é que haja também alguém na família a abrir as portas e a encaminhar para todos os locais que podem ajudar: médicos, psicólogos, polícia, advogados. E, infelizmente, nalguns casos - mas não podemos generalizar- a acção da APAV pode chegar tarde...para não falar dos nossos Tribunais: quando a bebé da minha prima tinha já 6 anos é uq eficou tudo resolvido em ttermos legais: mas não nunca "guarda-costas ou segurança" privados- mesmo que o Tribunal proiba o agressor de chegar a mais de 1 km da vítima; e no caso das crianaças e paternidade, não houve uma Assistente Social a acompanhar os encontros (o tipinho acabou por nunca aparecer) entre a filha e o "espermatozoide" ambulante que a originou. Muita coisa está mesmo, mesmo muito mal - mesmo quem dá guarida recebe ameaças de morte, etc, etc....isto dava para uma discussão sem fim.

Gatapininha disse...

Alda, esta história é horrivel.
Eu também acho que a senhora precisa de ajuda psicologica (não tem auto-estima)em primeiro lugar e depois precisa de dar um pontapé no traseiro do atrasado mental do marido.
Nenhum homem merece que se sofra assim por ele, nem com a desculpa dos filhos.
Os filhos gostam é de sentir os pais felizes, quer seja juntos ou separados.

jokas

Alda disse...

Na minha opinião ele é um verme, precisa de levar um pontapé no traseiro como diz a Sandra, e a senhora precisa de um abanão para ter a coragem de o enfrentar!

Natty disse...

Meu Deus! Como pode haver pessoas com esta postura!! Estou mesmo revoltada!! Mas, muito haveria a dizer sobre isto.
Beijinhos para todas.
Natty

VandaR disse...

Bem, fiquei a pensar nesta história e vinha dizer exactamente, o que a Nela disse.
Ainda há aquelas que ficam "presas" por dependência monetária,mas como a própria diz, não é o caso e tolerar esta violência, só pode mesmo precisar de um bom psicólogo.
A APAV, pelo que sei, pede tanto que a vítima desiste. É necessário preencher uns quantos requisitos.

Bjs

Isa disse...

Que horror Alda, pensei que isto já nem existisse e muito menos em casais tao novos. Pois o meu marido tb me via assim, uma mulher elegante, bem vestida e sexy, e Graças a Deus, continua a ver-me tal e qual, como é possivel que alguem instruido, pode agir assim??
E reconstrução, nunca terá pensado? Claro que não por ele, mas por ela. Ter auto istima.
Sei do que falo, alias sabemos, né ALda. Eu tive mastectomizada 2 anos, depois veio a reconstrução, mas em um só instante me passou qq coisa desse genero pela cabeça. Se um uma mulher se reduz a uma mama, esse homem, pode ir embora, que não esta ai a fazer nada. Enfim...espero que essa "vida" seja salva.
beijinhos Alda

Lina Querubim disse...

Pois é Aldinha, existe sim e não é só nas familias com menos recursos é em todas mesmo!
Muitas Mulheres depois da mastectomia os maridos separam-se delas não sabem lidar com a situação e a forma mais fácil é saír de casa...e outros pela falta de companheirismo, amor, amizade procuram como "esse" que aqui é relatado"mulheres completas" :p é um nojento!
Agora ela tb deveria se impôr. Precisa de ajuda para ela mesma lidar com a situação porque imagino que não seja facil a mutilação mas ela não a aceitou...e a prova está na falta de auto-estima!

Beijinhos

Teresa disse...

Uma história triste, esta, entre tantas outras que para aí existem. As mulheres têm, de facto, de se impor, mas quando não o faziam antes, nesta situação, quando a nossa auto-estima e equílbrio estão abalados, as coisas complicam-se ainda mais.
Um beijinho, Alda
TeresaP

mari-lou disse...

Amigas essa auto estima nem sempre é fácil,talvez quando se tem por perto família e amigos que lhes mostram a eles, que mesmo sem mama são mulheres de corpo inteiro,muito mais valiosas do que eles que nem alma têem.

Isalenca,minha amiga, fala-se muito mas não se faz nada,como diz o ditado, o falar é barato e o mar é de água.

Beijinhos.

carla ervilha disse...

Um dia contei a um amigo uma história que me abalou imenso, parecida com esta. Ele respondeu com uma pergunta: 'e ninguém lhe deu um tiro nos cornos?' Subscrevo agora essa mesma tirada. Como se uma pessoa pudesse ter culpa por ter cancro... Se esse marido tivesse cancro da próstata e ficasse impotente ou incontinente, como tantos homens ficam, será que a mulher dele lhe diria que ele não era mais homem? Só não entendo como pode continuar com ele... não entendo.