segunda-feira, 11 de maio de 2009

Dia 13 em Fátima ...


Jornal de Notícias


"A fé não se vê, sente-se, mas não se explica..."


Santuário de Fátima aguarda por cerca de 200 mil peregrinos nos próximos três dias
Ontem
LEONOR PAIVA WATSON

O Santuário de Fátima está preparado para receber nos próximos três dias cerca de 200 mil peregrinos.Destes, estima-se que sejam 30 mil os que chegam à Cova da Iria depois de vários dias de duras e muito longas caminhadas.

Esta é uma das maiores peregrinações do ano a Fátima e assinala a data daquela que foi a primeira aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos. Este ano, as celebrações são presididas pelo cardeal D. Óscar Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, Honduras, que é também presidente da Cáritas Internacional.

Ao ar livre decorrerão as celebrações num espaço de mais de 84 mil metros quadrados. Entre 200 a 300 mil pessoas irão prestar homenagem a Nossa Senhora de Fátima. Diz quem lá vai todos os anos que o que se sente quando se chega ao Santuário é "indescritível". Explica, ao JN, o padre Arlindo Ribeiro da Cunha, pároco em Vila Nova de Gaia, que "o peregrino tem sempre em vista chegar ao lugar onde o sagrado toca o humano".

E a peregrinação é uma prática religiosa fundamental, "estando presente em todas as religiões", ensina. Basicamente, resume, "a peregrinação começou com a religião e esta começou como o Homem". Sendo a vida um caminho, a peregrinação é, assim, uma metáfora da vida. "Todos os fundadores de religiões foram peregrinos. Jesus, Abraão, Moisés, Sidharta, Maomé foram peregrinos. O povo de Israel é peregrinante", contextualiza o padre Arlindo Ribeiro da Cunha, acrescentando que "os hindus vão ao Ganjes, os muçulmanos a Meca, os cristãos a Roma, Jerusalém e Santiago de Compostela".

No nosso país há vários locais de peregrinação. O Santuário de Fátima é talvez o local mais emblemático. Esta devoção a Fátima começou a ficar mais intensa na década de 60. "Portugal atravessava um período histórico conturbado, marcado pela guerra na ex-colónias. As mães, as irmãs as esposas, as noivas agarraram-se à Nossa Senhora. Iam pedir pelos seus entes queridos ou simplesmente agradecer que eles tivesse regressado bem", pormenoriza aquele pároco

Que Deus é o pai de Jesus?

Mas o que é a peregrinação, afinal? É ir agradecer, é ir pedir a Deus por intermédio da Nossa Senhora? O padre Arlindo Ribeiro da Cunha é peremptório: "O Deus com que se negoceia não é o pai de Jesus".

Este pároco vai mais longe e afirma que "a peregrinação a Fátima tem que ser evangelizada porque o Deus que faz favores não existe". Até porque Deus é naturalmente "bom e o entendimento que se deve fazer Dele é que Ele quer as pessoas felizes". É assim preciso "retirar da cabeça das pessoas um Deus castigador".

Mas, a crer no Deus que fala o padre Arlindo, por que há então tanta miséria no Mundo? "Porque nem Deus vale àquilo que depende da liberdade do Homem", diz. Além disso, a pobreza de uns "tem e deve ser a causa dos outros", argumenta.

A peregrinação é, assim, um símbolo da vida. "Quem peregrina tem que sair, exige o doloroso que é partir; tem que ter uma meta e não pode perder-se, tal como na vida. Se se perder , volta atrás. E o caminho, tal como a vida, exige a simplicidade, o descarrego, a tralha pesa muito e quanto mais tralha menos caminho", defende.

É neste caminhar, sem agradecer ou pedir nada, sem negociar o que quer que seja- consciente ou inconscientemente - que o peregrino "liberta o espírito e conhece um tempo verdadeiramente religioso, que é um tempo de silêncio".

Na reportagem que o JN fez com os peregrinos encontraram-se muitas pessoas que foram pedir a Deus por intermédio da Nossa Senhora. Foram humildemente fazer o que lhes ensinaram. Muitos. Outros, porém, foram apenas em busca desse tempo de silêncio que é, também, um acto religioso.

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2 comentários:

Cristina J. disse...

A minha mãe já está a caminho, foi a pé.

Bjinhos Alda

Alda disse...

Cristina,

Um beijinho para ti, e para a tua mãe!