sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Duas histórias de vida

Jornal do Centro de Saúde Tiragem: 46000

O que têm em comum as histórias de Teresa Nunes e Amélia Aldeia? Estas duas
mulheres travaram uma luta contra o cancro da mama durante meses a fio. Hoje,
volvidos quase sete anos desde a confirmação do diagnóstico, ambas sentem-se vitoriosas
por terem ganho esta batalha. Os testemunhos de coragem de quem nunca
deixou de acreditar na vida depois do cancro da mama.
Batalha contra
o cancro da mama
Aos 39 anos, Amélia Aldeia
foi surpreendida
por um nódulo na mama
direita. "De um momento
para o outro, detectei algo de
anormal, quando estava a tomar
banho", diz. Como tinha
uma consulta de rotina marcada,
aproveitou a altura para
expor as dúvidas à médica.
Ao realizar a mamografia -
uma das técnicas de detecção
de anomalias no tecido
mamário - foi-lhe dito que deveria
"ser controlada anualmente".
Mas, por descargo de
consciência, decidiu levar os
exames ao centro de saúde.
A médica de família, depois
de ver os resultados da mamografia,
aconselhou-a a dirigir-
se a uma consulta da
mama, já que o nódulo apresentava
uma dimensão de
3,5 cm.
No hospital de Santa Maria
realizou uma nova mamografia
e a suspeita de cancro
começava a desenhar-se.
Dias mais tarde, a biopsia
confirma o diagnóstico: cancro
da mama. Esta notícia, recebida
no dia 6 de Dezembro
de 2002, é acompanhada
por uma outra informação
por parte da médica: "Vai ter
de fazer uma mastectomia,
pois já tem nódulos na axila".
Perante o choque do momento,
Amélia Aldeia ficou "anestesiada".
Mas, sem baixar as
armas, decidiu seguir em
frente e não esmoreceu.
"Eu aceitei a cirurgia, porque
a única coisa que queria
naquele momento era tirar o
cancro dentro de mim, mesmo
que, para isso, tivesse de
extrair a mama." Amélia Aldeia
sente que, apesar de tudo,
teve "sorte", porque o cancro
foi detectado a tempo.
"Clinicamente", assegura a
Dr.ª Ondina Campos, chefe
de serviço de Ginecologia
aposentada do Centro Hospitalar
de Coimbra, "podem-se
encontrar nódulos através da
palpação, embora a mamografia,
o exame de rastreio
por excelência, seja aquele
que nos permite detectar precocemente
qualquer alteração".
"Está preconizado que as
mulheres devem realizar mamografias
periódicas a partir
dos 40 anos de idade", acrescenta.
Mas, caso haja factores
de risco familiares, devese
iniciar mais cedo, por volta
dos 35 anos, com exames regulares
de dois em dois
anos." Para a especialista, a
mamografia "é o método que
garante um maior sucesso terapêutico",
já que "a detecção
precoce" é a palavra de ordem
na luta contra o cancro.
A Prof.ª Maria João Cardoso,
coordenadora do Grupo
de Patologia Mamária do
Hospital de S. João, no Porto,
explica, ainda, que "a maior
parte dos nódulos na mama
não são malignos: mais de
80% têm uma origem benigna".
Um nódulo "que não dói,
duro e irregular é, mais provavelmente,
maligno", refere.
Embora a dor seja um sintoma
em meio por cento dos tumores,
Ondina Campos diz
que, raramente, surge como
primeiro sinal. "O mais frequente
é o aparecimento de
uma massa palpável (caroço)
no peito". No entanto, ambas
as especialistas são peremptórias
em afirmar que, após
suspeita ou alteração do tecido
mamário, as mulheres não
devem hesitar em procurar o
médico assistente e, em caso
de dúvida, um profissional
com experiência nesta patologia.
Amélia Aldeia, hoje com
46 anos, diz que o diagnóstico
precoce lhe salvou a vida.
Depois da luta contra o cancro,
integrou o movimento
Vencer e Viver, ajudando outras
mulheres que, como ela,
se virão a braços com um
carcinoma da mama. Fala
com conhecimento de causa,
o que legitima os seus conselhos:
"Façam a palpação antes
e depois da menstruação,
vão a consultas regulares e
não guardem as mamografias
dentro da gaveta."
A vida continua
Teresa Nunes, 45
anos, sentia-se
uma mulher
perfeitamente
saudável.
"Não havia desconfiança
de nada", recorda. Mas
uma mamografia de rotina,
que fez em Outubro de 2001,
veio acusar o contrário. "O
exame mostrou uma massa
estranha, com contornos irregulares.
Os médicos pediram
novos exames, por haver uma
desconfiança."
No dia 15 de Novembro,
foi-lhe comunicado o diagnóstico:
cancro da mama.
"Passei de uma pessoa saudável
a muito doente. Tive uma
sensação de estranheza, porque
me sentia fisicamente
bem, mas os exames diziam
que eu tinha cancro", lembra.
Não tinha gânglios da axila
afectados, mas, por uma
questão de localização do
carcinoma, aconselharam-na
a submeter-se a uma mastectomia:
a extracção completa
do seio. "Não questionei o
cancro ou a decisão dos médicos,
porque a minha maior
vontade era vencer e continuar
viva", realça.
Depois da cirurgia, seguiram-
se os tratamentos de quimioterapia
e radioterapia.
Apesar da agressividade destas
terapêuticas, Teresa Nunes,
consultora se seguros, diz
que teve "sorte" com os efeitos
secundários. "Sofri apenas a
queda de cabelo". Ironiza, no
entanto, com esta situação,
dizendo que esta foi a fase em
que mais investiu em roupa,
lenços e chapéus.
No pós-operatório, a reconstrução
da mama, hoje
em dia, pode ser quase imediata.
No caso de Amélia Aldeia,
no dia da cirurgia foi-lhe
colocado "o expansor: um
aparelho que, ao encher-se
de soro, vai criando a caixa
da mama". Teresa Nunes
aguardou um ano, após as
25 sessões de radioterapia,
para que a cirurgia de reconstrução
lhe devolvesse de
novo o seio.
A consultora de seguros,
tal como Amélia Aldeia, nunca
parou de trabalhar, mesmo
na fase dos tratamentos.
Ambas são unânimes em afirmar
que o facto de estarem
ocupadas favoreceu a recuperação.
"Nunca quis meter a
cabeça na areia e esconderme
deste problema", sublinha
Amélia Aldeia, reiterando: "A
partir do momento em que
passei por esta experiência de
cancro, comecei a dar mais
valor à vida."


Já Teresa Nunes diz que
deste duelo contra o cancro
reteve uma lição: "Não há como
prevenir a morte, mas há
forma de prevenir a morte antecipada".
A consultora de seguros
reforça a ideia de que
não vale a pena encobrir a
doença, nem ter medo. "Este
sentimento afunda-nos." Por
isso, sugere que todas as mulheres
olhem por si e pelo seu
corpo, fazendo o rastreio regularmente.
Embora o cancro da mama
seja o tumor mais frequente
no sexo feminino, é,
porém, o carcinoma com
maior taxa de sobrevivência,
se for detectado em estádios
prematuros. "Quando descobrimos
uma lesão prémaligna
no rastreio (carcinoma
in situ), a cura é de
100%", explica Maria João Cardoso

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